A diferença entre Tai-chi e Qigong

As raízes do Qigong remontam a milhares de anos, arqueólogos e historiadores encontraram referências a técnicas de qigong com pelo menos 5.000 anos atrás.

O Tai-chi foi desenvolvido mais recentemente (1500 anos) por monges Shaolin, para autodefesa e combate. Os fundadores do Tai-chi também eram versados nas práticas de Qigong e usavam no seu sistema de autodefesa. No entanto, qigong é considerado um sistema de saúde, e tai chi é uma verdadeira arte marcial.

Podemos dizer que o Tai-chi tem influências directas do Qigong, e que o Qigong é umas das bases do Tai-chi.

De qualquer maneira “os clássicos do Tai-chi” tem um valor incalculável para qualquer praticante de qigong.

Apresento aqui apenas 3 textos que integram os clássicos, pois são para mim dos que melhor podem ensinar e ajudar a desenvolver para um prática de Qigong Essencial.

Os clássicos do Tai-Chi 

Os clássicos tem um princípio em comum; todos nos falam do processo de mudança no Universo e, como o homem não está separado do cosmos, assinalam-nos a sua preparação pessoal através da adaptação flexível. Trata-se da capacidade de adaptação às situações em mudança, partindo da base de que toda a existência é um processo de mutação.

Devemos considerar que os escritos abaixo apresentados, por vezes ultrapassam a nossa experiência, pois utilizam uma linguagem metafórica destina ao iniciado, são palavras indiretas em que a razão não consegue penetrar sem a experiência da vivência.

De qualquer modo, os clássicos do Tai-Chi são o nosso melhor vínculo com o passado do tai-chi e constituem a base da arte., se os sistemas de tai chi e qigong violam os princípios dos clássicos, é porque são erróneos.

O tratado Tai-chi de Chang San-Feng

Chang San-Feng foi um monge taoista que fica conhecido por desenvolver o tai-chi após ter aprendido a arte marcial dos monges budistas shaolin. A ele se atribui o primeiro escrito sobre os Clássicos do Tai-Chi:

Em cada movimento, todo o corpo deve ser ligeiro e ágil.

Apesar disso, o mais importante é que todos os movimentos sejam contínuos.

O qi deve circular ativamente e o espírito deve ser conservado internamente.

Não permitir que parte alguma do movimento mostre imperfeições, muito menos descontinuidades.

Em todos os movimentos, a “energia interna” está enraizada nos pés, desenvolvida nas pernas e controlada pela cintura, e manifesta-se nos dedos das mãos.

Desde os pés e as pernas à cintura e aos dedos das mãos, deve existir uma coordenação completa, de modo a que, seja no avançar ou no retroceder, se possa ter uma posição favorável.

Em todos os movimentos, tais como avançar, retroceder e girar, deve procurar-se a solução na cintura e nas pernas.

No fundo, tudo depende sobretudo da própria mente e não da aparência exterior dos movimentos.

Em qualquer movimento, quando há uma subida, deve haver uma descida; quando há um avanço, deve haver um recuo; e, também, quando há uma esquerda deve haver uma direita.

Se se quer realizar um movimento para cima, este deve ser precedido de uma movimento para baixo.

Para arrancar uma planta da terra há que ter em conta a raiz, pois com um gesto de torção parte e logo será levantada e derrubada.

O cheio e o vazio, os dois fatores complementares, devem diferenciar-se claramente.

Em cada movimento e cada centímetro do mesmo, são necessários estes dois fatores.

Cada articulação do corpo deve ser sincronizada, de forma a que as acções do corpo sejam integradas como uma unidade sem a mais pequena interrupção.

Cada movimento é realizado centímetro a centímetro, sem pausa e sem romper a continuidade.

Os seus 10 pontos essenciais:

  1. A energia da parte superior da cabeça deve ser leve e sensível.
  2. Afundar o peito e elevar as costas.
  3. Relaxar a cintura.
  4. Distinguir entre cheio e vazio.
  5. Afundar os ombros e dobrar os cotovelos.
  6. Usar a mente e não a força.
  7. A unidade do superior e do inferior do corpo.
  8. A unidade do interno e do externo
  9. Continuidade sem interrupção.
  10. Procurar a quietude dentro do movimento.

Os clássicos atribuídos ao mestre Wang Tsung-Yueh

Segundo os historiadores Wang Tsung-Yueh viveu no século XIII durante a dinastia Ming e foi a primeira pessoa a quem o mestre Chang San-Feng transmitiu o seu conhecimento, estes são os seus ensinamentos intemporais:

Se movermos o qi com a mente e o comandarmos até o integrar, pode penetrar nos ossos.

Deixar que o qi circule livremente por todo o corpo, e o corpo obedecerá a mente.

Se se puder levantar o espírito, não se deve recear a lentidão ou o peso.

Isto é o que significa ter a cabeça como que suspensa de cima.

As nossas sensações devem tornar-se extremamente sensíveis para que exista um prazer completo e vivo.

Isto é o que quer significar-se ao falar-se das transformações de cheio e vazio.

Ao emitir energia, a pessoa deve concentrar-se, relaxar-se, estar tranquila e atenta a uma direcção.

A nosso postura deve ser erguida e relaxada, capaz de controlar as oito direcções.

Dirigir o qi é como enfiar uma pérola num buraco com nove curvas. 

Há alguma parte dela onde o qi não penetre?

Quando a energia se põe em movimento, é como o aço temperado cem vezes.

Que resistência não será capaz de vencer?

Devemos assemelhar-nos a uma falcão agarrando um lebre e possuir o espírito de um gato caçando um rato.

Na quietação, ser como uma grande montanha; na acção, fluir como um grande rio.

Acumular a energia como se estica um arco, libertá-la como se dispara uma flecha.

Buscar o direito no curvo, acumular primeiro e emitir depois.

A energia parte das costas, os nossos passos devem seguir o corpo.

Retirar-se é atacar, e atacar é retirar-se.

Depois de se retirar, voltar de novo ao contato.

Ao mover-se de um lado para o outro, usar o “dobrar-se”; ao avançar e retroceder, utilizar movimentos circulares e mudanças.

Da máxima suavidade surge a máxima dureza.

Da respiração adequada surge a sensibilidade e a vitalidade.

O qi deve desenvolver-se de forma adequada sem ser afetado.

A energia deve ser acumulada de forma a circular e deve haver sempre um excedente de qi.

A mente é o comando, o qi a bandeira, e a cintura o estandarte.

Buscar primeiro a expansão e depois a contração, alcançar-se-á uma técnica impecável.

Também se diz que as coisas se encontram primeiro na mente e depois no corpo.

O corpo deve estar relaxado, e o qi penetrará nos ossos.

O espírito deve estar aberto e o corpo em calma.

Ter presente a todo o momento e recordar conscientemente que, logo que uma parte do corpo se move, todo o corpo se move; e logo que uma parte se aquieta, todo o corpo se mantém quieto.

Ao empurrar para a frente e puxar para trás, o qi adere às costas e penetra na coluna.

Fortalecer interiormente o espírito vital e dar exteriormente a aparência de calma e tranquilidade.

Andar como um gato e mover a energia como se doba a seda de um casulo.

Toda a atenção deve ser posta no espírito e não no qi. Se estiver no qi, haverá bloqueios.

Os que põem a atenção no qi não tem energia; aqueles que não dão atenção ao qi conseguem um dureza essencial.

O qi é como uma roda, e a cintura como um eixo.

Mesmo quando a energia se liberta, mantém-se continuidade mental.

A canção das treze posturas

Manter as “treze” posturas e não as esquecer.

Quando se pretender um movimento, começar pela cintura.

Ser sensível às mudanças, à mais ligeira mudança de cheio para vazio.

Deixar-se-á assim que o qi circule como um fluido por todo o corpo.

Invisível no abraço da quietude jaz o movimento; e dentro do mesmo movimento oculta-se a quietude.

Buscar, portanto, o que está quieto dentro do movimento.

Se pudermos fazê-lo, as descobertas serão nossas.

Que o movimento se encha de consciência e de significado.

Se isto acontecer, o esforço do não esforço aparecerá.

Não abandonar a atenção à cintura.

Quando o abdómen estiver leve e livre, o qi estimular-se-á.

Se as vértebras inferiores estão erguidas, então o espírito eleva-se à parte superior da cabeça.

Todo o corpo deve estar flexível e suave.

A cabeça suspensa como se presa de cima por um só cabelo.

Permanecer desperto, procurando o significado do próprio Tai-chi.

Se o corpo de dobra ou estica, se se abre ou fecha, que o caminho natural seja o nosso caminho.

No início, os alunos ouvem as palavras do seu mestre; se aprendem com atenção e constância, a habilidade desenvolver-se-á por si só.

Quem pode dizer-me qual é o princípio fundamental do Tai-chi?

A mente desperta vem em primeiro lugar, e o corpo segue-a.

Quem pode dizer-me o significado e a filosofia do Tai-chi?

Juventude eterna e uma vida longa e saudável, que significam uma Primavera sempre presente.